Vamos falar sobre a característica do desenvolvimento, um atributo que Zeca Pagodinho tem como ponto forte. De acordo com os especialistas em psicologia dos pontos fortes, “as pessoas excepcionalmente talentosas no tema Desenvolvimento reconhecem e cultivam o potencial em outros. Elas identificam os sinais de cada pequena melhoria e obtém satisfação a partir da evidência do progresso. Os Desenvolvedores veem o potencial dos outros. Elas, naturalmente, veem a capacidade dos outros de mudar, crescer e desenvolver para o melhor”.
Isso é muito comum no mundo do samba, esse foco no desenvolvimento e na comunidade. No samba a questão do apadrinhamento é bastante forte. O sambista adota uma pessoa até o final, e foi assim com o Dudu Nobre. Ele era cavaquinhista do Zeca, o Dudu Nobre foi um pupilo do Zeca e a gente vê que isso tem muito nas comunidades. As pessoas se interessam pelo desenvolvimento independente, não é aquela coisa do desenvolvimento do ter para ser, é ser para ter. São pessoas que têm essa crença do desenvolvimento.
Essas pessoas são inerentes a qualquer tipo de situação ou de resultado, elas gostam de ajudar e de ver os outros evoluindo.
Zeca Pagodinho
Jessé Gomes da Silva Filho nasceu no Rio de Janeiro. Quarto filho de uma família de cinco irmãos, nasce no bairro carioca do Irajá. Ainda criança, mudou-se com a família para Del Castilho. Antes de seguir carreira artística, trabalhou como camelô, office boy, anotador de jogo do bicho e feirante. Entrou na música por meio das rodas de samba do Rio de Janeiro e nas quadras da escola de samba
Portela e do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, dois locais importantes para sua formação musical.
Carreira
Fruto de uma geração de músicos surgida debaixo da folclórica tamarineira, das tradicionais rodas de samba do Cacique de Ramos, Zeca Pagodinho é um dos responsáveis por mudar o jeito de compor, tocar e cantar samba nos anos 1980. O músico introduziu nova sonoridade ao samba, com o tantan, o repique de mão e o banjo. Ele faz com que o samba volte a dialogar com as grandes massas, sem perder qualidade, na década em que outros gêneros, como o rock, dominam o cenário musical brasileiro.
Nos anos 1990, o país registrou a explosão do pagode, com surgimento de diversos grupos. Mesmo com o mercado apontando para outros rumos, Zeca não cedeu a apelos das grandes gravadoras, manteve seu estilo e provou ser possível fazer música para o grande público sem cair nas armadilhas de fórmulas prontas, com melodia e harmonia simplistas.
Para críticos e especialistas, a característica mais marcante da obra do músico é mesclar a influência de mestres do samba, como Hildemar Diniz, mais conhecido como Monarco (1933), Casquinha da Portela (1922), Argemiro da Portela (1923-2003) e Jair do Cavaquinho (1922-2006), com uma presença rítmica marcante. Nesse sentido, Zeca é o discípulo mais bem-sucedido na linha do tempo do samba. Do convívio com grandes nomes do samba, criado em Oswaldo Cruz e Madureira, aprendeu a fazer e cantar o gênero nas mais variadas vertentes. Sabe compor na forma genuína e tradicional – como os sambas de terreiro, que conhece pelos mestres portelenses –, ao mesmo tempo em que cria canções melodiosas e dolentes, que falam de amor.
Desde jovem, Zeca Pagodinho é considerado no meio musical como especialista do partido-alto, sabendo versar de improviso, seja qual for o tema, na fogueira das rodas de samba. Compondo como grande partideiro, ele identifica bons sambas de outros autores, sobretudo os da vertente de sambas jocosos – estilo filiado às crônicas urbanas, que retratam cenas do cotidiano e fazem humor com tipos sociais. Nessa linha, dá voz a composições de diversos sambistas, com destaque para Marquinhos Diniz, Luiz Grande e Barbeirinho do Jacarezinho (1950), do Trio Calafrio, de quem grava sucessos como “Caviar”, “Dona Esponja” e “Parabólica”. Além deles, grava composições de Zé Roberto, com “Vacilão” e “Penetra”; e Alamir Boêmio, Canário (1949) e Roberto Lopes, com “Ratatúia”. Zeca Pagodinho também interpreta autores tradicionais, como Monarco e Ratinho, com o clássico “Vai Vadiar”. Suas gravações são usadas em diversas trilhas de novelas, como Hipertensão (1986), com “Judia de Mim”, na primeira trilha da qual participa; Passione (2010), com “Garanhão”; e Avenida Brasil (2012), com a música “Verdade”.
Na carreira, sobretudo na segunda metade dos anos 1990, Zeca Pagodinho deveu grande parte do sucesso às longevas parcerias com dois nomes renomados no meio musical: o produtor, arranjador e gaitista Rildo Hora e o também arranjador e violonista Paulão Sete Cordas (1958). Ao lado deles, Zeca imprimiu a característica marcante de seus registros: gravações que chegam a contar com mais de 30 músicos, combinando uma pulsação rítmica e percussiva vibrante com a sofisticação de cordas, coros femininos e naipes de metal.
A harmonia dos sambas é formada por acordes simples, não fugindo à regra de intervalos maiores e menores. As melodias são comparadas pelo sambista Monarco às de Manacéia (1921-1995), compositor e instrumentista da Velha Guarda da Portela. Elas quase sempre estão ligadas a uma estrutura desenvolvida em duas partes e um refrão curto.
No canto, Zeca Pagodinho é respeitado por críticos e especialistas pela divisão e pelo fraseado modernos, sempre emocionais, aliados à voz rouca, desenvolvida em décadas de boêmia. Em discos ou nos palcos, Zeca Pagodinho imprime sua marca. Tem a assinatura de autenticidade e o cantar natural de quem vive o samba com devoção religiosa ao mais popular gênero musical brasileiro. Não por acaso, nomes como Wilson Moreira (1936), Nei Lopes, Martinho da Vila (1938), Arlindo Cruz, Nelson Rufino, Monarco, Casquinha, Roque Ferreira (1947), Beto Sem Braço, entre tantos, confiam-lhe o respeito em parcerias ou cedem-lhe músicas que se tornam clássicas na voz de Zeca Pagodinho.
Em 1981, estreia como compositor com a canção “Amarguras”, escrita em parceria com Cláudio Camunguelo (1947-2007) e gravada no segundo álbum do grupo Fundo de Quintal. Dois anos depois, o faz o primeiro registro como intérprete na canção “Camarão que Dorme a Onda Leva”, coescrita com Beto Sem Braço (1940-1993) e Arlindo Cruz (1958) e gravada em dueto com Beth Carvalho (1946), no disco Suor no Rosto (1983). Em 1985, participou da coletânea Raça Brasileira, organizada pela gravadora RGE, com diversas composições escritas em parceria, como “Leilão” (com Beto Sem Braço) e “Mal de Amor” [com Mauro Diniz (1952) e Beto Sem Braço], além de interpretar “A Vaca” [com Ratinho (1948-2010)] e “Garrafeiro” (com Mauro Diniz) e de dividir os vocais com Jovelina Pérola Negra (1944-1998) em “Bagaço da Laranja” (com Arlindo Cruz).
No ano seguinte, lançou o primeiro disco solo, Zeca Pagodinho, com destaque para as canções “Judia de Mim”, “Brincadeira Tem Hora”, “Quando Eu Contar (Iaiá)”, “Coração em Desalinho”, “SPC” e “Casal Sem Vergonha”. Em 1987, lançou Patota do Cosme, cujo os maiores sucessos são “Maneiras”, de Sílvio da Silva (1947) e “Tempo de Don-Don”, de Nei Lopes (1942). No ano seguinte, lançou Jeito Moleque, que trouxe as músicas “Manera Mané” [com Beto Sem Braço, Serginho Meriti (1958) e Arlindo Cruz] e “Se Tivesse Dó” [com Nélson Rufino (1942)]. Em 1989, registrou no álbum Boêmio Feliz sucessos como “Saudade Louca” e “Minta meu Sonho”.
Na década seguinte, tornou-se um dos principais nomes do samba e lançou mais quatro álbuns. A carreira deslanchou em 1995, com o disco Samba pras Moças, com produção de Rildo Hora (1939), com quem Zeca estabeleceu constante parceria. Além da canção-título, há composições “Se Eu Sorrir, Tu Não Podes Chorar”, “Vou Botar teu Nome na Macumba”, que lançou o parceiro e discípulo Dudu Nobre (1973), e o pot-pourri “Pisa como Eu Pisei/Brincadeira Tem Hora/Quando Eu Contar (Iaiá)”.
Ainda na década de 1990, lançou Deixa Clarear (1996), com os sucessos “Verdade” e “Não Sou Mais Disso”; Hoje É Dia de Festa (1997), com “O Dono da Dor”, “Posso Até Me Apaixonar” e “Faixa Amarela”; Zeca Pagodinho (1998), com “Vai Vadiar” e “Seu Balancê”; e o álbum Zeca Pagodinho ao Vivo (1999).
Nos anos 2000, emplacou sucessos em novelas, como “Deixa a Vida me Levar” (faixa que dá nome ao disco de 2002), e ganhou quatro Grammys Latinos em 2001, 2002, 2003 e 2006. Sua vasta discografia inclui CDs gravados ao vivo e no formato Acústico MTV (dois volumes).
60 anos
Em 2019, comemorou seus 60 anos de idade com uma festa na Cidade do Samba, Rio de Janeiro, celebrando ao lado da família, amigos e artistas, que se tornaram parceiros ao longo de sua carreira. No mesmo ano lançou, pelo selo Universal Music, o CD “Mais feliz”, dedicado ao parceiro e amigo Arlindo Cruz, com composições autorais como “Nuvens brancas de paz” (c/ Arlindo Cruz e Marcelinho Moreira) e “Enquanto Deus me proteja” (c/ Moacyr Luz). O disco teve participação de Teresa Cristina na regravação de “O sol nascerá” (Cartola e Elton Medeiros), que foi tema de abertura da novela “Bom sucesso” da Rede Globo.
Álbuns
(2019) Mais feliz
(2018) De Santo Amaro a Xerém CD
(2018) De Santo Amaro a Xerém DVD
(2016) Quintal do Pagodinho 3 CD
(2016) Quintal do Pagodinho 3 DVD
(2015) Ser humano
(2015) Partido Alto
(2014) Sambabook Zeca Pagodinho CD
(2014) Sambabook Zeca Pagodinho DVD
(2013) Vida que Segue CD
(2013) Vida que Segue DVD
(2013) Um barzinho, um violão CD
(2013) Um barzinho, um violão DVD
(2013) Chega de Saudade
(2012) Samba Book – João Nogueira CD
(2012) Samba Book – João Nogueira DVD
(2012) Cristo Redentor 80 Anos Ao vivo CD
(2012) Cristo Redentor 80 Anos Ao vivo DVD
(2012) O Quintal do Pagodinho CD
(2012) O Quintal do Pagodinho DVD
(2011) Zeca Pagodinho ao Vivo com os Amigos (coletânea) CD
(2011) Zeca Pagodinho ao Vivo com os Amigos (coletânea) DVD
(2010) Vida da minha vida CD
(2008) Uma prova de amor CD
(2007) Zeca Pagodinho – Raridades CD
(2006) Acústico MTV Zeca Pagodinho II – Gafieira
(2005) À vera
(2003) Zeca Pagodinho Acústico MTV
(2002) Os melhores do ano III
(2002) Deixa a vida me levar
(2002) Chico Buarque – Duetos
(2002) Jorge Aragão ao vivo convida
(2001) Nome sagrado. Beth Carvalho Canta Nelson Cavaquinho
(2000) Água da minha sede
(2000) Os melhores do ano II
(1999) Zeca Pagodinho ao vivo
(1998) Ao mestre Heitor dos Prazeres
(1997) Hoje é dia de festa
(1996) Deixa clarear
(1995) Samba pras moças
(1993) Alô, mundo!
(1992) Um dos poetas do samba
(1991) Pixote
(1990) Mania da gente
(1989) Boêmio feliz
(1988) Jeito moleque
(1987) Patota do Cosme
(1986) Zeca Pagodinho
(1985) Raça brasileira
Curiosidades
Sempre que fica bêbado no shopping, ele compra um cachorro.
Ele ganhou uma égua e decidiu virar criador de cavalos.
Em 2013, ele usou um quadriciclo para socorrer vítimas das chuvas em Xerém, na
Baixada Fluminense.
Ele tem um funcionário só para carregar cerveja.
Em 2003, no auge de sua carreira, foi o primeiro artista de samba a gravar um especial de TV, CD e DVD pela MTV Brasil (tradicional reduto do pop-rock). O Acústico MTV, gravado no Rio, foi um de seus discos mais vendidos, rendendo, inclusive, uma segunda edição em 2006 (a primeira da história da MTV Brasil). O segundo acústico, batizado de Acústico MTV Zeca Pagodinho 2 – Gafieira, homenageou o samba de gafieira.